terça-feira, 24 de abril de 2007

VIVA A PINHA



Tttccchhhhheeeeee...
Tcchhhhheee…
Pum…Pum…Pum…
Trá, tá tá, trá, tá táa…
Tcheeeeeeee…
Pum!... Pum!... Pum!...

Agachou-se a velhota num repente
Deu um traque violento e altaneiro
Foi um êxtase! Um ardor, um bafo quente
Foi a fuga, esquecendo o seu traseiro…

“Ai Jesus! Valha-me Deus que me borrei…
Ah malvados! Estou desfeita em porcaria…
Vão p´rá Pinha, vão, vão, eu bem o sei
E p´rá bebedeira aí vai tudo em romaria”.

E lá foi num passinho miudinho
Pé ante pé… Era um pivete!...
Passa a cavalo, o Manel e o Branquinho
M´ai-lo Simão e um dos filhos do Cadete.

Um a um os tractores vão chegando
Parecem andores! Quão formosos eles vão!...
Há música a rodos, já cantando vão dançando
Viva a Pinha, p´ra Ludo é um esticão.

Pampilhos ornamentais,
Papoilas, malvas e rosas,
Palmeiras vergadas dão ais
Jaquetas e cintas Formosas.

Uma mãe embevecida
Aconselha o seu filhote:
“Não te metas na bebida
Cavalga bem, vai a trote”.

Flash´s disparam sem fim
Os vídeos são novidade,
“Põe-te aqui ao pé de mim
És quási da minha idade!...”

Viva a Pinha! Viva a Pinha!

O grito ecoa mais forte
O frenesim é maior
O cortejo vai partir
O povo aplaude a sorrir.

O Zé António Piáó desfila garboso
Com a sua irreverência
Um ar jovial e jocoso
Arranca palmas da assistência…

“Um a um, todos à Pinha,
São já horas de partir…”
Na Escola a malta se alinha
Dá vivas, grita a sorrir.

O cortejo já lá vai
Cavalos vão imponentes
No seu fino galopar
Em cima “romeiros” contentes

A outras terras vão chegar…
Vem o povo para a rua
Admirar o cortejo
Esta festa é também tua

Bom regresso é um desejo…
Palmas, flores e vivas

Juventude hilariante
Meninas bem humoradas
Dão um charme cativante
Quais finas mouras encantadas.

A longa fila se estende
No sinuoso alcatrão
Há gente que se surpreende
E julga ser ilusão…

É Maio, são flores, é Primavera!...
É o calor do sol que nos aquece
É uma mística que de nós se apodera
Se tristeza existe, ela esvanece.

Paganismo!?... Fé!?... Tradição!?...
Qual a resposta certinha!?...
A todos os que ali vão
Vão à Festa, vão à Pinha.

Na estrada, mais burburinho
O turista se questiona!?...
Pára mesmo o seu carrinho
Sai p´ra fora uma “camona”.

“What is this???...
How many flowers!?... Ahhh!!!
And the horseman´s… Oooohhh!!!
It´s beautiful…
Please, please!... A photo please!!!...”
“Sim filhaaaa, na deslizes, ah, ah, ah!!!
Tirá´qui uma… Ah camona!...
És cá uma boazona!...”

É a 125, o perigo nos vem sondar
Um a um, todo o cortejo respeita
Não à ida, mas na volta, ao regressar.
Quando os copos, o balão por nós espreita,
Que a multa, essa agora é à´viar…

Ludo, qual Paraíso,
Ilhéu de amores floridos
Cada qual no seu juízo
Sentam os cus já doídos.

A ordem é comer e beber,
Distribuir a preceito,
Quem lá vai, só para ver…
Arranja angina de peito!...

Sardinha assada, fresquinha,
P´lo Viterbo, “xota –xota”…
Assada na brasa, quentinha…
Senhora fina!... Até arrota!...

Caracóis e carne assada
É tudo à descrição.
Há mesas, toalha lavada,
Coma de pé ou no chão.

Cerveja correndo a rodos
Vinhos caseiros são muitos,
Verdes, maduros, de todos,
Chouriços, até presuntos!...

Abarcas, também as há,
Do mais pequeno ao graúdo,
Há café, até há chá,
Há de tudo aqui em Ludo.

Bem comidos, melhor bebidos
Os “romeiros” se exercitam
Alguns, os mais atrevidos…
Por vezes… Até se excitam!...

O convite ali à mão…
Na seda, daquele decote!...
Um homem não é cabrão,
Nem maricas, nem pixote!...

“Há que grande sacaneira,
Vejam o c´o velhote lhe fez!...
Ca puta da brincadeira,
Rasgou a blusa à Inês!…”

Os mirones, estão pasmados
De tamanha algarviada,
Canta-se a canção e o fado
Vozes roucas e afinadas.

Quão depressa o tempo passa
Quando se está a gozar…
Na Festa, com gente de raça
São já horas d´abalar.

Os corpos serpenteando
A caminho dos muares
Por vezes, não os achando,
Outros vêem, mas aos pares!!!...

“Toca a subir m´nha gente,
P´ra Estoi é nossa missão
Santa Bárbara p´la frente
Chega a Banda e o foguetão.

Organizado o cortejo,
Ludo, ficou lá atrás,
Meus olhos, eu já nem vejo,
A cabeça se desfaz!...

Viva a Pinha!
Viva a Pinha!
Viva a Pinha cacete!!!

Vá mais uma bem fresquinha
Estoira no ar um foguete.
Pum! Pum! Pum!...
Catrapum, pum, pum,
Só mais um!!!...

Viva a Pinha!
Viva a Festa da Pinha!...
Viva a Pinha!...

Na estrada é a alegria
Juventude em movimento
P´la manhã, quem diria
Ver o Simão embirrento!...

O Virgílio, o Deputado,
Das vastas terras da Areia,
Com o trânsito está marafado
“Ah sê cabrão duma cheia…”

Movimento, movimento,
Mulas de freio nas ventas,
São um suplício, um tormento!
“Quais travões! Vê tu se aguentas!...”

Bom, o pior já passou!...
E Santa Bárbara é ali
P´ra alguns a Festa acabou
P´ra outros aperta o xi-xi…

Novo magote se agita
No Rossio da “machadinha”
É todo um povo que grita
“Viva a Pinha” Viva a Pinha!...”

A Banda está treinando
Sob a batuta do Latas,
Vão tocando mas olhando
P´ra trás, focinhos e patas.

Tudo ajuda na ladeira
O treino foi proveitoso
Porque em Estoi a brincadeira
P´ra alguns é bem espinhoso.

“É tarde, é tarde, maltinha,
Vamos chegar atrasados,
Viva a Pinha! Viva a Pinha!
Ah! Copos! Ah seus malvados!...”

Descida com puro sangue
Mistura de alcoolémia
“Queira Deus eu não me zangue...”
O Coiro da Burra nos espera
O cortejo vai chegar
O Povo não desespera
A Festa vai continuar.

Archotes, são disputados,
Distribuídos à medida,
“Quero os carros iluminados
Mal se inicie a subida.”

“Sim, Sô Presedente,
Assim memo é q´ué falari,
O ano passado fique doente
Na vi d´nhum pus-me a olhari.”

Banda garbosa e nervosa
É da Pinha tradição
Aquela subida espinhosa
Deixa marcas, pois então…

Puuuum!...
É a partida!...

O carrossel já partiu!...
Ordeiro e compenetrado
Cada actor cumpre e cumpriu
O seu papel, sem ser forçado.

Que lindo! Que majestoso!...
Que imponente cortejo!...
P´ra Estoi estou ansioso
Cumprir enfim meu desejo.

Viva a Pinha! Viva a Pinha!
Viva a Festa da Pinha!...

À malta do caneco
Como aguentam essas gargantas
Vai mais um, outro boneco,
Flash´s na noite! – Que mantas!...

“Na veio a tlevesão?!...
Virá no Telejornal!?...
Os cabrões nunca cá estão,
Mas que merda é esta afinal!?...”

Viva a Pinha! Viva a Pinha!
Viva a Festa da Pinha!...

Varandas, estão apinhadas,
Palmas e vivas s´escutam,
Crianças, estão pasmadas
Os velhos, até exultam…

Viva a Festa da Pinha!!!

Respondem os forasteiros
De vídeos bem apontados,
Seus filmes são pioneiros
De feitos por nós glosados.

Eis o Largo da Igreja!...
Que majestoso cenário!...
Quem não viu, é bom que veja
Quão belo e imaginário!...

Cavaleiros, romeiros altivos,
Nas carroças, o sangue fervilha,
Tractores repletos, garridos,
Viva a Pinha! Viva a Pinha!...

Quase na ponta final,
No Jardim, novo fulgor,
Todos vêem, bem ou mal,
Aquele fogo, aquele ardor!...

Viva a Pinha! Viva a Pinha!...
Viva a Festa da Pinha!...

E estamos chegando ao fim,
No Cruzeiro, ao Pé da Cruz,
Palmeiras, flores, alecrim,
Fogueira imensa de luz!...

Está contado o que vi
Nesta Festa bem amada
Da aldeia onde vivi
Por mim jamais olvidada.

Joaquim Aleixo
(Acabei o meu poema
2:15 da madrugada…)
(Faro, 2 de Maio de 1989)

3 comentários:

Anónimo disse...

Aleixo, para comentar
Esta tua rima certinha
Eu só me apetece gritar
Viva a Pinha, Viva a Pinha!
JJR

Anónimo disse...

excelente!! VIVA A PINHA!!

Anónimo disse...

ler todo o blog, muito bom