sexta-feira, 11 de maio de 2007

A PARTIDA

“De Estoi a Ludo"
Integramos o cortejo, montados na carroça que este ano é conduzida a preceito pelo nosso amigo Filipe “carreiro” entendido.
Teimosamente Eu, o Eusébio Rita (sete pelos), o José António Paula Brito (o Doutor) e o José António Cadete Gago que veio a propósito do longínquo Canadá, para não perder pitada da Pinha, fazemos questão de nos manter fiéis à carroça, em detrimento do tractor.
Um mar de gente no Largo da Liberdade, aplaude e incentiva os intrépidos “almocreves” que partem garbosos em direcção a Ludo.
O barulho dos chocalhos e arreios das carroças, o relinchar estridente das éguas e cavalos, o grito ainda sonoro do “Viva a Pinha” prontamente repetido por todos.
Eh pá, já contei mais de 118 cavalos! diz animado, o Rita.
Flashes disparam em todas as posições, são as máquinas apontadas que captam as primeiras imagens matutinas para mais tarde recordar.
Os miúdos da Escola Primária, saltitam e pulam de contentamento com a passagem ritmada do cortejo!
É a Festa da Pinha, em Estoi!
Viva a Pinha! gritam e o Rita responde: “viva o alguidar da carne! …”
O cortejo vai avançando eufórico, estrada fora. Ultrapassamos, somos ultrapassados, sempre com o grito “Viva a Pinha”!
O Coirro da Burra, há muito que ficou para trás, passámos Santa Bárbara e estamos a chegar ao Esteval.
O percurso vai sendo feito com grande animação e entusiasmo, muita gente na beira da estrada, alguns turistas aproveitam para tirar fotos.
E foi assim até Ludo. Chegámos!
Cada grupo procura a melhor sombra para ficar.
A chegada, com alguma decepção verificamos que muitos que não participaram no cortejo, se antecipam e já ocupam os melhores lugares.
Desatrelam-se os animais.
Preparam-se as mesas improvisadas, porque é tempo de retemperar as forças, comer e beber o farnel que preparámos.
A Festa continua.
Misturam-se sabores, prova-se isto e aquilo, ... eh pá trás as febras que os caracóis já foram!
Que bela pinga esta! Este ano está boa!
Contam-se histórias.
Repete-se o ritual.
Cantamos, dançamos e brincamos, ao som do harmónio.
Fazem-se abarcas!
O Zé Preto, ao ver uma linda moça diz uma bonita quadra:

As tuas mãos cor-de-rosa
As tuas faces vermelhas
As tuas palavras mimosas
Fazem-me aquecer as orelhas!

O dia vai avançando, daqui a pouco é hora de preparar o regresso.
Ainda há tempo de beber mais um copo e ouvir um verso, agora do nosso amigo Arnaldo “Panito Mole”:

Como é para ficar gravado
Vou dizer uns versos tais
Já estou velho e cansado
Não sei se virei cá mais!

Para continuar a gravar
Quero dizer uma minha
Certa malta que está a falar
Nem sabe o que é a Pinha!

Isto é um festejo tão querido
E quero que ninguém se esqueça
Trouxe um copo partido
Que tenho que beber à pressa!

Este vinho do Cavaco
Não vem lá do Cartaxo
Mesmo sendo um pouco fraco
Até deita a gente abaixo!

São horas! Temos de nos despachar! Vai mais uma para atestar!
Em breve iniciaremos a partida de regresso a Estoi.

(Joaquim Aleixo - Maio de 1994)

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